Com a crise criada pela pandemia do Novo Coronavírus no ano de 2020, uma preocupação tem sido levantada pelos profissionais da área da medicina oncológica. Isso acontece porque as demandas que seriam atendidas no momento não estão tendo a atenção necessária devido o regime de quarentena em todo o mundo, atrasando os diagnósticos precoces.
Segundo publicou o Jornal Correio Brasiliense, dados levantados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e principais serviços públicos e privados de referência no pais estimam que ao menos 70 mil brasileiros com câncer deixaram de receber o diagnóstico nos quatro primeiros meses da pandemia.
De acordo com a publicação do jornal, profissionais de saúde se preocupam com uma futura epidemia oncológica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já esperava um aumento de casos até 2030. A entidade estima que daqui a dez anos o mundo terá 27 milhões de novos casos e 17 milhões de mortes por câncer.
Segundo a entrevista do Jornal Correio Brasiliense com o radioncologista Felipe Teles, o impacto da pandemia fará com que pessoas com câncer sejam diagnosticadas em um estagio mais avançado, tendo prejuízos no seu tratamento. “Tivemos impacto direto no número de pessoas que não realizaram consultas. E esses pacientes, muito provavelmente, vão detectar a doença em um estágio mais avançado. Logo, o tratamento vai ser limitado”, explica o radioncologista Felipe Teles, do Hospital Imaculada Conceição, de Curvelo-MG.
Ainda segundo Teles, com o diagnostico avançado, pacientes terão que se submeter a cirurgias muito mais invasivas ou até mesmo sem chance de cura.“Alguns tratamentos, quando administrados nessa fase mais avançada, podem ser mais tóxicos, deixar mais sequelas e ter uma menor taxa de cura” afirma o radioncologista.
Uma outra preocupação é sobre o medo dos pacientes oncológicos de realizar os tratamentos durante a pandemia. “Nós tivemos vários relatos de pacientes que não quiseram tratar quando a pandemia começou, simplesmente, pelo fato de não se sentirem seguros”, confirma o radioncologista Felipe Teles.
Maria Terezinha da Silva Oliveira (55), mora em Curvelo e acompanha o pai, Antônio Pereira da Silva (87), que realiza o tratamento do câncer de próstata. Ela conta que adiou o início da radioterapia por medo da pandemia.
Segundo a entrevista do Jornal Correio Brasiliense com Maria, a indicação do tratamento foi feita em fevereiro, quando o Brasil ainda não tinha casos, mas Antônio só começou as sessões de radioterapia no final de julho. “No início, você fica assustado e não sabe como é. O medo parece que toma conta”, conta a filha. Depois de ver que não podia mais esperar para continuar o tratamento, Antônio deu início à radioterapia e já fez 12 sessões. “A gente toma todos os cuidados. Saímos de máscara, vamos em um carro próprio para poder levar e trazer. O hospital também tem todos os cuidados e álcool para todo lado”, relata Terezinha.
Teles indica que os pacientes em tratamento fale com os médicos de referência para que recebam a orientação adequada.“Nós temos alternativas, mesmo diante da pandemia, seja trocar uma medicação endovenosa para uma medicação oral, seja reduzir o tempo de tratamento na radioterapia. Nós conseguimos, por exemplo, diminuir o número de frações para que o indivíduo não vá tantas vezes ao hospital. O mais importante, neste momento, é que os pacientes não abandonem o tratamento do câncer porque o câncer não vai esperar a pandemia passar”, completa.
Segundo o oncologista Gustavo Fernandes, o grande problema em adiar o tratamento é o fato de que o câncer é uma doença que quanto mais o tempo passa, maior é a taxa de proliferação e progressão da enfermidade. “Esses tumores, certamente, não estão esperando a pandemia da covid-19 passar”, reforça o oncologista.
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