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O analfabeto político


Em 1898 nascia, na Alemanha, aquele que seria um dos maiores poetas e dramaturgos do século XX: Bertolt Brecht. Sempre com abordagem crítica, Brecht expôs em suas peças e poemas problemas que continuam atuais, mesmo quase um século depois. Brecht foi o criador do teatro didático que, por meio de um processo dialético, apresentava duas funções: fazer as pessoas se divertirem e pensarem. 

Em um de seus raros textos narrativos, “OS NEGÓCIOS DO SENHOR JÚLIO CÉSAR”, em que retrata a disputa eleitoral na Roma republicana entre Catilina e Júlio César, que mais tarde daria um golpe e para se tornar ditador, um personagem diz a seguinte frase: “O voto não é uma arma nas mãos do povo: o voto é uma mercadoria que o povo vende e que se torna uma arma nas mãos do comprador”. O voto é uma arma que se volta contra o eleitor que é um analfabeto político. Esse tipo de eleitor foi descrito por Bertolt Brecht num de seus mais famosos textos, um poema que tematiza o fenômeno da “negação da política”, frequente hoje no Brasil e no mundo: 

O ANALFABETO POLÍTICO

O pior analfabeto é o analfabeto político. 

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. 

Ele não sabe que o custo de vida, 

o preço do feijão, da carne, da farinha, 

do aluguel, do tênis, do refrigerante, 

dependem de decisões políticas. 

O analfabeto político é tão burro que se orgulha 

e estufa o peito dizendo que odeia a política. 

Não sabe o burrinho que da sua ignorância nasce a prostituta, 

o menor abandonado, o assassino, o traficante 

e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, 

o político corrupto, financiado pelo capitalismo selvagem

e serviçal dos exploradores do povo.


Ainda esses dias, vi uma charge que ilustra, à maneira de Brecht, o tema da alienação política. É uma fábula em que o boi pergunta à vaca: “Você vai votar no açougueiro ou no leiteiro?”. A vaca responde: “No açougueiro, claro! Estou cansada desse leiteiro que vive roubando meu leite...”.

Tanto essa fábula quanto o poema de Brecht, traduzido e adaptado por Fabiane Viecilli, servem de reflexão para o nosso momento político e para a necessidade de exercer nossa cidadania através de um voto livre, crítico, consciente.

Afonso Guerra-Baião


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