Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, até 19 de fevereiro, o Estado registrou 218.265 casos prováveis de dengue. Desse total, 75.310 foram confirmados, com 19 óbitos confirmados e 122 em investigação. Diante deste cenário e de tantos outros vivenciados pelos mineiros com relação às doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, mostra-se importante o papel das políticas públicas e da produção científica para o enfrentamento da doença.
Essas são algumas conclusões do estudo do Técnico em Assuntos Educacionais do CEFET-MG Huener Silva, membro do Departamento de Ciências Sociais e Filosofia, que defendeu a tese “De Epidemia à Endemia: uma História da dengue em Belo Horizonte (1996-2016)” do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Com uma análise interdisciplinar, que agregou contribuições da História, Sociologia, Filosofia, Antropologia, Direito e Saúde Pública, a pesquisa analisou o processo de endemização da arbovirose (doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos; as arboviroses mais comuns em ambientes urbanos são dengue, chikungunya e zika) na capital mineira, a partir da sua primeira epidemia em 1996, com o registro de elevado número de casos nativos em Venda Nova, até 2016, quando a cidade, por conta da natureza assumida pela doença e pelo destaque na produção de políticas públicas e científica, se torna uma das sedes de importantes pesquisas para o enfrentamento da doença, como a vacina Butantã-DV e o projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil. “Era um momento que, pelo volume de casos, Belo Horizonte ficou conhecida em alguns veículos da mídia como a “capital da dengue”. O trabalho se mostra fundamental para o entendimento desse importante problema de saúde pública que tanto afeta o país, sobretudo a Região Metropolitana de Belo Horizonte, há mais de 30 anos”, explica Huener.
O trabalho realizou algumas indagações, como, por exemplo, como se deu o processo de endemização da dengue na capital mineira, tendo como marco a primeira epidemia na cidade, em 1996? Que fatores biossociais concorreram para a fixação da condição endêmica, como de uma representação pública da doença, no município? Como esse processo contribuiu para tornar Belo Horizonte uma das sedes de importantes experimentos científicos relacionados à doença, a partir de 2016? O pesquisador concluiu que “o fato de as políticas coordenadas pela Secretaria Municipal de Saúde se tornarem uma referência para o Ministério da Saúde, o quadro endêmico da doença na cidade e o reconhecimento nacional e externo das contribuições do coletivo local de cientistas na produção de conhecimento e de políticas públicas para a arbovirose concorreram para tornar Belo Horizonte uma das capitais de ‘ciência da dengue’”.
Segundo dados do Instituto Butantan, a epidemia ocorre quando há um aumento no número de casos de uma doença em diversas regiões, estados ou cidades, porém sem atingir níveis globais; e endemia ocorre quando a doença é recorrente na região, mas não há um aumento significativo no número de casos e a população convive com ela. Assim, considerando a pesquisa do historiador, a dengue se consolidou como endemia em Belo Horizonte no século XXI.
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