Por décadas, quando alguém precisava de um remédio de madrugada em Curvelo, o caminho era um só. Por mais de 40 anos, a Drogaria Cristina manteve atendimento ininterrupto, 24 horas por dia, todos os dias da semana. Um serviço essencial que virou rotina, quase um direito adquirido da população. Só que a realidade, como sempre, cobra a conta.
Atualmente, a empresa mantém dois farmacêuticos atuando no período diurno, assegurando a qualidade técnica e o cumprimento das exigências legais. Durante a noite, historicamente, o atendimento sempre foi realizado por vendedores experientes. E não por descaso, mas por lógica simples: o movimento noturno sempre foi muito baixo, tornando a operação deficitária.
Mesmo assim, a drogaria bancou o prejuízo por anos. O atendimento noturno só existiu porque o faturamento do dia compensava as perdas da madrugada. Era um acordo silencioso com a cidade. Um compromisso social que atravessou gerações.
Esse equilíbrio, no entanto, foi quebrado recentemente. A Drogaria Cristina foi notificada pelo Conselho Regional de Farmácia e pela Gerência Regional de Saúde sobre a obrigatoriedade da presença de farmacêutico também no período noturno. Na prática, isso significa contratar pelo menos mais dois profissionais.
O problema não é misterioso. O piso salarial dos farmacêuticos é significativamente mais alto que o de vendedores, somado ao adicional noturno e a todos os encargos trabalhistas. A conta simplesmente não fecha. Manter o funcionamento 24 horas, nessas condições, tornaria inviável a operação da empresa como um todo.
Diante disso, a suspensão do atendimento 24 horas não foi uma escolha, nem uma decisão administrativa conveniente. Foi uma imposição regulatória somada à necessidade de preservar a sustentabilidade financeira do negócio, manter os empregos existentes e continuar oferecendo um serviço de qualidade à população.
Com isso, a Drogaria Cristina passa a funcionar diariamente das 7h às 23h.
O caso escancara um dilema conhecido, mas pouco discutido: a distância entre a legislação, a realidade econômica e as necessidades da população. No meio desse fogo cruzado, quem perde é o cidadão que, agora, não conta mais com uma farmácia aberta de madrugada na cidade.
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