No último domingo (30) o rapper Criolo lançou o clipe "Boca de Lobo", com rimas ácidas contra o desvio de verbas, corrupção, descasos do governo e a crescente violência que atingem quem está às margens da sociedade.
As críticas ganham ainda mais vida com as diversas referências que o clipe trás. Nele, monstros destroem o país e são os responsáveis por diversas tragédias atuais.
Referências
O clipe é repleto de críticas, não só na letra da música mas também nos locais de destruição onde os monstros estão posicionado, a simbologia de cada um e os detalhes nas cenas.
No início do vídeo, e meio a um caos, já é possível ver o Museu Nacional em chamas através de uma televisão de uma lanchonete, logo depois o clipe exibe um outro prédio pegando fogo, fazendo referência ao incêndio em um edifício no Lago do Passandu, em São Paulo. Na ocasião o prédio abrigava cerca de 150 famílias, desabou após ser engolido pelo fogo e fez 9 vítimas fatais. Se você prestar atenção nesse quadro, verá em uma das janelas uma figura com uma panela na mão, o que seria uma representação dos "paneleiros", pessoas que protestaram contra o governo de Dilma Rousseff, batendo panelas nas janelas de apartamentos.
O escândalo da merenda em São Paulo não ficou de fora. A imagem de um prato com apenas um biscoito e um copo de suco representa o ocorrido. Na ocasião, a verba destinada para as merendas nas escolas públicas foi desviada por um cartel em diversos municípios do estado. Geraldo Alkmin, então governador do estado, foi chamado de "ladrão de merendas", e a justiça chegou a pedir dados de usuários do Twitter que o acusaram dessa forma.
Em uma outra cena, um paramédico corre com uma criança até uma ambulância. O uniforme dele traz a inscrição "PEC 55" nas costas, projeto que congela gastos públicos da saúde e educação por 20 anos, aprovado pelo governo no fim de 2016. A cena faz referência à imagem do menino sírio resgatado em um dos bombardeios na cidade de Aleppo, mas nesse caso a criança veste o uniforme das escolas públicas do Rio de Janeiro.
Durante o caos, pessoas fogem de ratos imensos que saem do subterrâneo, eles seriam a representação dos políticos e a cena retrata o esquema de propina e formação de cartel no metrô de São Paulo, conhecido como o trensalão.
Enquanto o Brasil é destruído por monstros, uma família esbanja riqueza, fruto da corrupção. O que chama a atenção e talvez você não tenha notado é que uma das mulheres dessa cena veste uma blusa da grife Gucci com a frase "recatada e do lar". Esses foram os adjetivos usados pela revista Veja, em 2016, para se referir a primeira-dama Marcela Temer. Os guardanapos na cabeça também se referem à "farra dos guardanapos", festa do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, em Paris, promovida com dinheiro desviado do estado.
Um avião caindo faz uma rápida referencia aos acidentes aéreos que mataram o candidato Eduardo Campos, em 2014 e o ministro Teori Zavascki, em 2017. Os dois acidentes repercutiram nos noticiários e levantaram inúmeras teorias sobre sabotagem.
O "levante dos estudantes secundaristas", que ocuparam inúmeras escolas entre 2015 e 2016 também foi representado em uma fogueira feita de carteiras escolares.
Durante o clipe, um Aedes Aegypti gigante aparece para representar não só as doenças que ele transmite, mas também o interesse internacional na exploração do petróleo no pré sal. O mosquito pousa no topo de uma refinaria de petróleo e começa a sugar todo o combustível.
Em uma cena rápida, a câmera registra uma mulher rodopiando um tecido e um homem de terno e mãos para o alto com um livro na mão. A mulher representa Janaina Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma, durante seu discurso na USP, em 2016. O homem representaria a bancada evangélica, exaltando a bíblia e seus dogmas.
Representando o desastre de Mariana, que devastou o município do interior de Minas Gerais, em 2015, o clipe mostra um gigantesco porco chafurdando na lama. Enquanto isso uma figura feminina, representando a vereadora Mariele Franco, assassinada em março desse ano, se destaca no meio do caos.
Representação do incêndio no Museu da Língua Portuguesa |
Nesse momento do clipe as referências são muito mais claras, o incêndio do Museu da Língua Portuguesa, na estação da Luz em São Paulo, é retratado enquanto um enorme tucano destrói um helicóptero que vira pó. Como o tucano é o símbolo do PSDB e o helicóptero foi o ponto principal do escândalo em que a Polícia Federal apreendeu 450KG de cocaína no veículo da família do senador Zezé Perrela, a referência é gritante. A proximidade de Aécio Neves, membro do PSDB com Perrela, colocou o psdebista no centro do escândalo do "helicoca".
Não tão claras como as últimas referências, o clipe mostra uma sequencia de imagens sobre propinas com elementos mais sutis. Em uma das cenas, um dos computadores mostra a frase "Não fale em crise, trabalhe" do presidente Michel Temer como fundo de tela, enquanto um calendário de mesa mostra a mensagem "Agro é tóxic", em referência a campanha "Agro é Pop". Na próxima cena o clipe busca representar as malas e caixas de papelão cheias de dinheiro, encontradas em um apartamento do ex-ministro Geddel Vieira Lima, em 2017. O político teria guardado num "bunker" cerca de R$ 51 milhões em dinheiro.
O vídeo clipe termina com um morcego gigante sobrevoando Brasília, uma cutucada no presidente Michel Temer, já que sua imagem é muitas vezes associada à de um vampiro, sendo representado dessa maneira no desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti, no carnaval de 2018. O samba enredo também trazia uma crítica de caráter social.
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