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No Dia do Livro Infantil, um pouco da curvelana Nina Salvi


Por Newton VIEIRA*


 

 

Em 18 de abril, comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil, por ser a data de nascimento do mestre Monteiro Lobato (1882-1948), o criador de Emília, Dona Benta e tantas figuras mágicas do Sítio do Pica-Pau Amarelo.

A propósito, trago à baila a história de vida de uma mulher incrível, natural de Curvelo e de enorme importância para a literatura brasileira destinada às crianças. E ela teve atuação marcante justamente numa época em que o país só contava praticamente com... o mestre Monteiro Lobato!

Noêmia de Salvo Souza, mais conhecida pelo pseudônimo Nina Salvi, nasceu em 25 de fevereiro de 1902, filha do major Antônio Salvo e dona Maria Bella Penna de Salvo.

 

A ESCRITORA

 

Formada em Farmácia pela Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, ela descobriu o dom de contar histórias quando começaram a chegar os filhos, mas só desenvolveria o imenso talento literário por volta de 1936, ocasião em que foi acometida de laringite. Impossibilitada de falar por alguns dias, Nina passou a escrever. Seu estilo terso, sua agudeza de espírito, a fertilidade de sua imaginação e a força de seus relatos ganhavam vida em letra de forma. Por meio da fantasia, os personagens iam surgindo. Desabrochava, então, a escritora, e nada mais seria capaz de detê-la.

Seu marido, o professor José Roberto Vianna de Souza, consciente da verve da esposa, procurou incentivá-la. Aliás, foi ele quem lhe escolheu o pseudônimo Nina Salvi e passou a enviar-lhe os contos para os concursos de literatura infantil instituídos pelo Ministério da Educação em 1937.

Nina Salvi logo ganhou o primeiro prêmio, uma Menção Honrosa. Em seguida, vieram os três primeiros livros: “O Milho de Ouro”, “A Estória do Príncipe Abdel Assur” e “O Tesouro da Ilha”.

A escritora colaborou com várias revistas: “Sezinha”, “Era Uma Vez”, “Saci”, “Estrelas” e “Almanaque Juvenil”, dentre outras.

Sempre identificada com as crianças, publicou também os livros: “Dingo e Tucha”, “Tico e Teco”, “Princesinha Flor da Lua”, “Ana Lúcia no País das Fadas”, “Os Anões Encantados”, “Rosalinda”, “O Menino Jesus e a Borboleta”, “A Ceguinha do Poço”, “A Cobrinha Encantada”, “Belinha e Bolinha” e “Joaninha”.

 

RECONHECIMENTO DA UNESCO

 

Algumas de suas obras foram adaptadas para o teatro. Em 1944, “Ana Lúcia no País das Fadas” estreou com grande êxito no Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes, centro do Rio de Janeiro, sob a direção de Olavo de Barros.

Em 1974, Nina Salvi teve a satisfação de ver “Ana Lúcia no País das Fadas”, já premiado no Brasil, selecionado e enviado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil à UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura –, onde foi recomendado e incluído entre as melhores obras internacionais da literatura infantil. Nessa época, a escritora já havia se tornado nome de várias bibliotecas e clubes de leitura. Na terra natal, por exemplo, deu nome à biblioteca da Escola Estadual Interventor Alcides Lins.

 

OS FAMILIARES, O LEGADO

 

Do casamento com o citado professor José Roberto Vianna de Souza, vieram-lhe os seguintes filhos: Paulo, Cláudio, Ângela e Ana Lúcia, os quatro falecidos. Dentre seus descendentes está o neto jornalista Lauro Jardim, filho de Ângela, ex-redator da revista Veja e atualmente em O Globo. Pertencem ainda à família dela, dentre outros, os sobrinhos Antônio e Péricles Salvo e os sobrinhos-netos Antônio Pitanguy de Salvo, presidente do Sistema FAEMG, e Gustavo Pitangui de Salvo, ex-presidente da AMCZ – Associação Mineira dos Criadores de Zebu.

Nina Salvi morreu em 5 de abril de 1992, deixando criações literárias cuja importância atravessará os séculos. Legado de beleza e de amor à obra de arte moldada na palavra.

Seu trabalho pioneiro abriu caminhos. Quando dos primeiros livros, viu o conterrâneo Lúcio Cardoso, que viria a ser cognominado “Dostoiévski Brasileiro”, fazer sua única incursão pela literatura infantil com “Histórias da Lagoa Grande”. Algum tempo depois, Curvelo ganharia outros expressivos autores de textos para crianças. Basta citar Wilson Veado, André Carvalho, Arnaldo Mourthé e os mais recentes Rogério da Fonseca Trindade, Vittório Apps (meu afilhado querido), Valdene Mendes Batista e Gleybia Gomes.

 

DEPOIMENTO DO NETO

 

Neto de Nina Salvi, o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, deu o seguinte depoimento sobre a escritora:

“Tive o privilégio de ouvir minha avó Noêmia {Nina Salvi} ler para mim alguns de seus livros antes mesmo de eu aprender a ler. Mais: passei dezenas de tardes com ela em seu apartamento de Copacabana escrevendo redações, sobre temas livres, que ela pacientemente corrigia. Ou melhor, mais do que corrigia, ela me incentivava a escrever mais. Entre os meus sete e nove anos de idade, redigi dezenas de textos sob o amoroso olhar dela. Até hoje tenho esses escritos guardados comigo.”

 

OPINIÕES CRÍTICAS

 

“Nina Salvi precisa ser reabilitada pela grandeza de sua obra, que fez muito sucesso no passado e ainda tem o poder de encantar.” (André Carvalho – Escritor, ganhador do Prêmio Casa de Las Américas)

 

“O trabalho de Nina Salvi contribui para a formação do verdadeiro espírito, pois ninguém ignora que as lendas de um país influem grandemente na unificação da pátria. Elas pertencem à tradição que nos une ao passado, que o presente respeita e transmite ao futuro.” (Vicente Guimarães, o Vovô Felício, em O Diário – Belo Horizonte, 18/12/1941)

 

“O mérito das histórias contadas por Nina Salvi ressalta às primeiras páginas, nas quais se passa logo a admirar a sua força de expressão e o seu modo todo particular de contar às crianças coisas belas. Os entrechos se ajustam perfeitamente à curiosidade fantasiosa dos pequenos leitores. Eles são por vezes movimentados e intensos, passando outros a se desenvolverem num plano álacre, em que tudo é mavioso e brando, em que a vida parece animada apenas por essa ingenuidade melíflua própria da infância. E a autora sabe como poucos criar tipos para que deles as crianças façam heróis. Obriga com isso os seus leitores a seguir o curso da vida das figuras que imaginou e à quais deu alma com entusiasmo crescente, à medida que as façanhas se desenrolam e vão preparando um desfecho sentimental.” (Estado de Minas, edição de 24/01/1939)



*Newton Vieira é jornalista e escritor. Detém vários prêmios, entre os quais o troféu do 1º Festival Internacional de Poesias Olavo Bilac. Autor de livros solos, como “Malungo”, de literatura infantojuvenil, figura em mais de 200 antologias no Brasil e no exterior, a exemplo da “Écrivains Contemporains Du Minas Gerais”, lançada  no Salão do Livro de Paris. Pertence, dentre outras instituições, à Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (AMULMIG) e à Academia de Letras e Artes de Fortaleza/CE (ALAF).

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